terça-feira, 22 de abril de 2014

OURO PRETO SITIADA - a medalha da inconfidência


Ontem, dia vinte e um de abril de dois mil e catorze, um grupo  de trinta pessoas protestou contra umas das festas mais hipócritas da república brasilis, coisa de parafernália medieval, que tinha o senador Aécio como mestre de cerimônias: ode à memória de tiradentes, o alferes alçado à ícone da liberdade brasileira, que, nas pinturas, ostenta a mesma barba de cristo, nosso tão fadado 21 de abril, assim mesmo, numérico. O que passo a relatar aqui é a minha experiência nesse dia, armado com minha sony, ante um poder desproporcional, mas desproporcional também pela imensa boçalidade, medalha da inconfidência no cu dos outros é refresco.



1. Trezentos compartilhamentos
Esse evento tomou corpo com a divulgação desta uma foto que, fazendo alusão à desastrosa, porém importante, pesquisa do IPEA, denunciava a agressão à praça tombada, obrigada a receber uma imensa estrutura metálica para proteger do tempo os agraciados com a medalha, os convidados, o coral e os simpatizantes, alterando o fluxo de trânsito durante quase quinze dias no principal cruzamento do centro nervoso da cidade. "A praça tiradentes não merece ser estuprada" foi uma foto quase trezentas vezes compartilhada no facebook, quase sempre acompanhada por comentários que escancaravam a indignação de uma população que, uma vez por ano, em nome da liberdade, tem privado seu direito constitucional de ir e vir, sob o peso de centenas de policiais, cavalos, helicópteros. Pois essa foto foi tomada como foto de capa de um evento que se chamou "Luto Pela Liberdade", evento que teve cento e onze pessoas confirmando presença numa proposta de cortejo fúnebre, todos vestidos de preto contrários à ausência de liberdade, à farra com dinheiro público, à politização de uma comemoração popular.


2. O pé rela no pó
Será sempre assim, as pessoas utilizam o 'comparecer' dos eventos do facebook para dar uma força, talvez achem que isso seja participação, e talvez seja. O fato é que, na hora do vamos ver, havia cerca de trinta pessoas empunhando cartazes, gritando palavras de ordem, esticaram até uma imensa carreira de farinha de trigo, fazendo alusão ao helicóptero do pó, no chão da rua direita. Um transeunte declarou "ao passar aqui o pé rela no pó". O fato de um primeiro esvaziamento, naturalmente enfraqueceu o movimento, porque os próprios organizadores esperavam mais, os cento e onze 'comparecerei', afinal, tiveram sim sua parcela de culpa, mas também os quase trezentos compartilhamentos, mas eis que ali se estabelecem os limites do mundo virtual, onde as pessoas são aguerridas, politizadas, engajadas,  mas o virtual não é táctil, portanto, frágil. Ali se escancara que os mecanismos virtuais são um meio e quem tem coragem, extrapola. Um instrumento fundamental, mas limitado. Se escancara, também, que, como sociedade, somos passivos. Será o catolicismo? O governo militar? A grande mídia? Houve um comentário em que uma moradora que reside em frente ao local onde a mobilização estacionou, no meio da rua direita, relatou um medo que os manifestantes fossem agredidos com bombas de efeito moral. Temos uma polícia truculenta, seu histórico recente de contenção de manifestações prova isto. Mas também temos uma polícia que recebe mal, que é explorada por um regime vexatório e este evento provava isto: ao jantar à luz de velas realizado no centro de convenções os policiais não foram convidados, talvez os comandantes agraciados com a medalha da inconfidência. E isto inaugura o próximo tópico deste texto.


3. Polícia para quem precisa
Na barreira de grades de ferro montada para conter os manifestantes, os trinta, havia duas cordas principais de policiais. Na primeira, pm´s de pé, alguns ostentando compridos cassetetes de madeira, coisa mais viril impossível, ali, de pé. Na segunda a tropa de choque, com seus escudos de capitão américa, sob o orgulho do poder excepcionalmente instituído, a privação do direito de ir e vir, capacetes que reluziam fogos da liberdade que vinham da praça sitiada. Passamos pela polícia montada e eu fiquei me perguntando se um cavalo é mais eficiente que uma motocicleta. Se um cavalo é mais barato. Mas continuo achando que a questão é a virilidade. O príncipe pm sobre seu corcel. A gente se sente inferior ante sua presença emblemática, o garantidor do estado de direito, o guardião do jantar à luz de velas do agraciado com a medalha da inconfidência e a gente ali, condenado a assistir à festa pela rede minas, ao vivo. Disseram que na rede minas era possível ouvir ao fundo, como um ruído de canal mal sintonizado, os gritos dos trinta. Gogós saudáveis, estes. Houve um momento em que a manifestação se deslocou para o beco. A partir desse momento três soldados começaram a nos acompanhar. Alguém bradou que, quando fora assaltada há poucos dias, não tinha escolta. Três soldados educados, um deles até falou sobre estar em ouro preto. E tentamos subir a ladeira atrás da escola de farmácia para ter acesso aos fundos do museu da inconfidência. Elegantemente escoltados. Ao chegar na corda de policiais, um outro pm disse: "pode passar". Mas aí viu um black bloc entre nós. Pronto. Pediu pro manifestante tirar a camisa do rosto. Exigiu documentos. Ele mostrou a identidade mas permaneceu de máscara. O pm conferiu a idoneidade do sujeito. O black bloc estava limpo. Mas depois, ó surpresa, não podíamos mais passar por ali. Uma pm recebeu um telefonema e pronto. Voltamos. Escoltados.


4.  A tática black bloc
Pausa pra uma roda de conversa. Alguém trouxe batatas e água. Desceu algum militar superior. Três soldados o escoltaram até a porta do hotel. Uma manifestante a seu lado, dizendo, ao pé de seu ouvido, algumas palavras de ordem. O superior disse, com ar superior: vá estudar. Ela ficou indignada. Voltamos ao lanche. Conversamos sobre os black blocs, alguém questionou a tática de cobrir o rosto. Mas aí lembramos do episódio recente, descrito logo ali, no capítulo três, quando o pm investiu apenas contra o rapaz de rosto coberto. Percebemos, em conjunto, que todos nós, de rosto descoberto, a cara da pátria posta na mesa, éramos amistosos demais. Nós, de cara pintada. Que uma boa cara coberta é um símbolo do poder do povo. Fora proteger os direitos civis do indivíduo, a cara coberta assusta as autoridades. Eles não querem ver os rostos para saber com quem dialogam, eles querem saber a quem processar, privar os direitos. Eu mesmo, até ali, tinha minhas dúvidas sobre a tática. Mas acho mesmo que o confronto é necessário. Foi uma conversa bonita. Não entre trinta, mas entre uns nove. Pouca gente, mas este texto, inclusive, é uma forma de difundi-la, agregar vozes. Comentários e retornos serão bem vindos. A luta continua.


5. Pouca gente?
Em pouco tempo os trinta haviam se dissipado. Uns na direita, outros na coronel alves, perto do teatro municipal. Mas aí nos reorganizamos, porque uma manifestante, que possuía credencial, havia sido barrada, sendo, ela só, impedida por cinco policiais, à beira da truculência. E ali foi o momento mais tenso, uma mulher contra cinco homens armados. Depois, os trinta se encontraram com alguns dos duzentos e quarenta agraciados. As mulheres de salto alto, com a sacolinha da medalha (eu fiquei pensando: quantas peças de teatro custaram essas sacolas, meu deus?), descendo uma leve ladeira, eram saldadas com os gritos "vai cair, vai cair". Percebemos que já não fazíamos mais fita quando diminuiu drasticamente o número de policiais que nos vigiava. Só quatro. Se aproximava o fim da manifestação. E o começo da discussão. Percebemos, ali, que tínhamos sido poucos, mas fortes. E que começava ali a manifestação do ano quem vem. Que seria necessária uma mobilização contínua. Queremos saber quanto custa essa farra. Queremos saber os critérios para concessão da medalhinha. Queremos o direito de ir e vir. Queremos a realização de uma festa simples e popular. Os trinta serão multiplicados. Amanhã vai ser maior.

6. Indivíduos
Durante a filmagem eu me perguntava por quem aquelas trinta pessoas estavam ali. Logo abaixo da manifestação é a famosa lama de ouro preto, dois bares que concentram quase todo fim de semana um grande público nas ladeiras, entre automóveis e motocicletas que vandalizam as vias seculares. Naquela noite havia mais gente ali bebendo do que aqui, gritando. Os trinta até desceram para tentar cooptar mais alguém. Sem sucesso. Voltamos às grades. Mas ali, refletindo com minha sony, eu percebi que eu mesmo não estava ai por causa daqueles outros, nem da população marginalizada, nem mesmo da população excluída da própria casa. Estava ali porque quis. Consciência minha. Encontrei umas senhorinhas com uma camisa rosa que gritavam "Aécio, vim aqui só pra te ver", mas que não viam a cerimônia, porque colocaram um tapume na praça para impedir que a população assistisse à farra. Uma lástima. Depois vi a juventude do psdb desfilando pela praça. Perguntei pra uma senhorinha e para um rapaz como eles chegaram ali. Ele tinha vindo de Valadares, de ônibus. Mas não soube me responder o que o trouxera, ideologia ou cooptação. Ela, a senhora, estava gritando e não conseguiu me ouvir. Refleti que nesses caso, a pior estratégia é a da cooptação. Fui chamado de petista, me mandaram votar na Dilma, embora estivesse de preto, como a maioria dos trinta, salvo duas exceções. Mas estava ali, de consciência limpa, sabendo que ela, minha consciência, era meu parâmetro de tudo e que minha função agora não é cooptar ninguém. É afirmar que me sinto mais forte e que essa força me faz feliz. É muito mais simples. E que a felicidade é revolucionária. E que a felicidade é a única revolução possível. Mudar-se. Mudar o mundo é consequência.



quarta-feira, 2 de abril de 2014

SOLO NOVO - Mais um processo de investigação do Grupo Residência


A partir de hoje o blog RATO DO SUBSOLO ou o ódio impotente passa a acompanhar o novo processo do Grupo Residência, iniciada com o vídeo a seguir, registro de um primeiro dia de investigações cênicas, culminadas com o tema que ali se propõe, mote para o próximo trabalho. Periodicamente serão publicados novos vídeos. Seu retorno será uma delícia.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

VIVA O CONHAQUE

disse o perneta
e disse o craque:
viva o conhaque!

a moça de bóbis,
o moço de fraque
viva o conhaque!

pra curtir a vida
superar o baque
viva o conhaque!

não se desespere,
ou se embasbaque,
viva o conhaque!

pra curar a saudade
ou partir pro ataque
viva o conhaque!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O QUE O COQUETEL MOLOTOV TEM QUE O FESTIVAL DE INVERNO NÃO TEM?


Cheguei hoje de Recife. Saindo de lá, sol. Chegando aqui, neblina e chuvinha fina, minha mãe tremendo de frio. Olinda me pareceu uma Ouro Preto com mais liberdade. Recife é da Lama ao Caos, e nada me parece mais preciso pra falar do pouco que conheci na cidade. Pena foi a época de eleição, que decora tudo com o mal gosto habitual da política de poluição sonoro-visual brasileira. No mais, aportamos no Festival No Ar Coquetel Molotov, um ode à diversidade musical, um oásis na pasmaceira que a vida paga-contas-trabalha-estuda-come-dorme-televisão-facebook-futebol-de-domingo proporciona (ainda bem que existe o apartamento azul, meu deus!). Fiquei de cara. O evento terminou com um show clássico do Moraes Moreira, tocando músicas do Acabou Chorare. Coisa de louco. O cara dava os primeiros acordes e a plateia derretia em uníssono. O Sancho chorava. A Nanda chorava. Começou chorare.

Aí, eu trago no título essa proposta, comparar o Coquetel Molotov com o Festival de Inverno de Ouro Preto. As diferenças são óbvias: O Coquetel Molotov é mais concentrado, menos linguagens, menos eventos, etc. O Festival de Inverno é aquele turbilhão de sempre, coisa pra muita gente, muitos gostos, especialidades, etc.

Mas, pra mim, há uma diferença básica. No Coquetel havia um bom humor geral, todo mundo sendo bem tratado. Quando se precisava de algo, as produtoras recebiam com naturalidade, prontas pra resolver as coisas. Agora, vá ter um problema no Festival de Inverno. Espocam desinformação e mal humor. Há umas senhoras grossas na produção, que achincalham seguranças, bolsistas, artistas, sem o menor dedo. Como se fazer produção fosse sinônimo de sisudez. Essas senhoras deveriam ir num fim de semana pra Olinda, comer macaxeira com carne de sol, pra perceber que a vida é boa. Muita cara de cu (desculpem a palavra, mas é como eu disse acima: tem hora que a expressão mais correta não é uma expressão correta) no festival de inverno. No Coquetel Molotov, até quem tava atolado de trabalho, recebia sorrindo. Nem precisava sorrir, não! Só não precisa rosnar. Uma vez, em Ouro Preto, abrimos o show do Cordel do Fogo Encantado. Aí, no final, queríamos ir ver o show dos caras de perto, pra fazer um contato, trocar ideia, etc. Uma senhora nos proibiu! Ficamos confinados no palco menor que tocamos, com um segurança tomando conta da gente! Coisa de louco. Isso foi em 2007. A senhora era loira. Já tive raiva dela. Hoje, tenho mais não. Fico meio assustado quando percebo que o mal humor é cultura. Que tem gente que só se diverte sendo chato. Grosso. Exercendo a pequena autoridade do não. Macaxeira, meu povo!

Eu acho que o Festival de Inverno precisa aprender a alegria.

sábado, 15 de setembro de 2012

MENSALÃO: A FÁBULA DE UM PAÍS HONESTO?




Essa semana começa o julgamento do chamado Núcleo Político do mensalão. Vamos entender como a alta corte brasileira define o esquema de empréstimos que já se comprovaram fraudulentos na esfera política. Essa semana, também, a Veja traz declarações - por terceiros, claro - de Marcos Valério afirmando que Lula era o principal articulador do esquema. Nas redes sociais espocam os gritos de 'queima, queima', numa espécie de caça às bruxas, como se condenar os responsáveis fosse uma espécie de redenção da sociedade brasileira, essa mesma que geralmente não devolve o troco que recebe a mais. Joaquim Barbosa virou o Batman. Marcos Valério, o Coringa (do Batman e do baralho!). Cadê Eduardo Azeredo? O boi bebeu? Ou foi Aécio? O que ainda há de vir desse fuá?

Pra mim, algumas perguntas ficam no ar, considerando que não há uma invenção política no caso, porque eu torcia que houvesse, uma vez que gosto mais do Zé Dirceu que do Roberto Jefferson.

1. Cadê Eduardo Azeredo? Esse esquema, particularmente, foi inventado em Minas, ou seja, é anterior ao esquema nacional. Porque não foi julgado primeiro pelo Supremo? Incompetência jurídica? Lewandowski citou isso essa semana. Mensalão mineiro: mito ou realidade? Caducará?

2. Sem um esquema de arrecadação de grana via caixa dois, O PT teria se tornado essa máquina nacional de votos? Sem um esquema de caixa dois o Governo Lula teria sido viável? Lula teria feito as profundas transformações - culturais, econômicas e sociais - que fez no Brasil? Os fins justificam os meios? Na esfera legal, a pertinência do fim serviria como atenuante de um crime? Eu parto dessa premissa: pra mim, o Governo Lula é um marco. Teria sido sem o mensalão? O esquema pressupõe que o governo sempre compre os votos dos deputados? Pra que serve um deputado? Pra mim é isso: a podridão é do sistema. Mas indivíduos podem ser responsabilizados pelo sistema? É a sistematização das atitudes individuais ou é uma cultura? Um modos operandi que se aprende com o pai do papai?

3. Marcos Valério finalmente vai falar? Delúbio Soares vai falar? O Lula vai falar? Alguém vai matar o Marcos Valério antes que ele fale? Há alguma coincidência no fato de Marcos Valério e PC Farias serem carecas? O Joaquim Barbosa também é.

São muitas perguntas, não é? Mas seriam mais. Muitas mais. Nesse julgamento política e verdade se misturam de uma maneira estranha. Luís Fux disse, dia desses, citando não sei qual acadêmico: "A verdade é uma quimera". Outro dia, numa piada intelectual, Ayres Brito arrematou, citando Shakespeare: "Há muita loucura nesse método". Esse julgamento é um marco, sem dúvida. Mas de quê? Sairemos disso mais honestos? Porque então, após descoberto o esquema, as campanhas políticas continuam milionárias? os esquemas terão sempre que serem descobertos pra que se inventem outros? Puta merda, mais perguntas... Alguma resposta, meu deus?

sexta-feira, 29 de junho de 2012

LULALUF E O CARTAZ NA CAIXA D'ÁGUA: GREVE GERAL!

Hoje passei pelo campus universitário, pra pegar um atalho até a padaria da bauxita, porque queria muito comprar uma broa de fubá. Entrei ali no portão principal, vi que o campus tem muitas faixas que informam que a universidade está em greve. Vi que tinha uma ali na caixa d água e eu achei um lugar muito pertinente. Porque é alto. Aí, logo depois, percebi que o portão de baixo do campus estava fechado. Voltei e dei a volta. E fiquei refletindo sobre a greve (ainda pensando na broa de fubá, todavia). Durante minha vida de graduando, passei por duas greves. Na primeira fui bem participativo. Na segunda, não. Na primeira integrei o movimento estudantil, fui até uma BR depois de Ouro Branco pra interditar a pista, pra chamar atenção da opinião pública. Entre muitos motoristas revoltados, policiais enfáticos e estudantes engajados, conseguimos fechar uma pista a cada cinco minutos. Não me lembro se houve alguma cobertura pela imprensa. Até acho que houve. Lembro-me que, na ocasião, o que mais me deixou encantado foi o fato de ter conhecido diversos alunos de outros cursos, porque não há outro movimento de convívio dentro das universidades que possibilite um exercício da universalidade. Ali houve. E intenso. Pena que a greve demorou muito. Depois, invadimos a reitoria, mas um aluno invadiu a sala do reitor. Ali começou a derrocada daquele movimento. Nos dividimos entre os que queriam sair da reitoria e os que queria sair no tapa com esse aluno. Mas foi intenso. Aí, passou o tempo, as pessoas se dispersaram. Mais tarde, a greve acabou, pagamos dois semestres, mas recebemos três, não sei quais foram as conquistas. Não me lembro. Houve. Algumas. Mas não me lembro quais.



Aí, há duas semanas o Lula apertou a mão e sorriu pro Maluf. Na maior cara de pau, sorrindo fartamente. Fiquei pensando que ali, finalmente, depois de Sarney e Collor, uma utopia nascida com o próprio Lula nas greves sindicais do ABC, morreu. Porcamente. Morreu. E, de lá pra cá, nosso movimento sindical evoluiu pouco. Não surgiram novos instrumentos de reivindicação. A greve envelheceu. Tudo bem, os recentes movimentos de greve de policiais e metroviários a rejuvenesceram, mas não parece uma coisa meio botox? Se havia, como na gente, lá perto de Ouro Branco, o desejo de chamar a opinião pública pra discussão, não há agora uma vitimização dessa mesma opinião pública? Digo isso porque tenho acompanhado as reportagens do jornal nacional sobre a greve nas universidades e sempre aparece um aluno que vai ter sua formatura atrasada, que foi impedido de exercer o direito da educação. Não será possível a criação de outros instrumentos de persuasão? Os cobradores e motoristas deixando as pessoas andarem de graça? Os funcionários da universidades não cobrando pela inscrição no vestibular? Outros instrumentos jurídicos, críticos? Há alguma discussão sobre esses instrumentos? (É uma pergunta mesmo, viu. Estou por fora. Jogo pedra do lado de lá do muro. Mas de vez em quando acerto a pontaria.)

Precisamos renovar os instrumentos de manifestação, trazer a sociedade pra junto. Sei lá, acho que se cada professor tirasse dez minutos de sua aula pra discutir as relações de trabalho, a sociedade civil, o funcionalismo público, a previdência privada, as vantagens e desvantagens de uma copa do mundo, sei lá, a greve como instrumento de pressão, acho que os resultados seriam mais relevantes. É utopia meio babaca, mas será mesmo que utopia e babaquice são coisas meio sinônimas? Será que reivindicação e greve também?


terça-feira, 27 de março de 2012

DE CHICO SCIENCE A LAVRAS NOVAS: OURO PRETO É PEDRA E PALAVRA



Modernizar o passado é uma evolução musical. Quando Chico Science surgiu, abriu caminho para uma pá de propostas musicais que especulavam a conversão da própria aldeia num universo expandido. O cara conseguiu, falando do mangue, redesenhar o Brasil. Isso não é novo. Algumas parábolas chinesas, dessas de mil anos, já especulavam isso. E também o Gandhi, que dizem, não era nenhuma Tereza de Calcutá. Dito isso, voltemos para nossa taba, ou alguém duvida que temos um quelóide oriundo de uma flechada na coxa? Essa taba em foco, no entanto, foi coberta pela engenharia portuguesa de construção e pelo oportunismo europeu em tempos de expansão colonial. Chegaram num lugar com uma geografia irregular, um buraco cercado de montanhas por todos os lados e deveriam ter dito, como seria de se esperar: que buraco, não será possível construir um cidade aqui nunca. Mas o ouro era tanto e de tão boa qualidade que disseram: dane-se! Vamos construir uma cidade aqui mesmo. E construíram uma espécie de serra pelada, mas com vestido de anquinhas. Vila Rica, uma das mais populosas cidades daquele tempo, com um enorme contingente de escravos. Conta-se que havia gente aqui que tinha ouro, mas não tinha comida. Samba do crioulo doido, casa da mãe Joana, imagine-se a cena: mais de cem mil pessoas espremidas num lugar que hoje, expandido pela ocupação desordenada das décadas, cabem setenta mil (contando os distritos e quem sabe como é longe ir de bicicleta do Salto a Miguel Burnier entende do que estou falando). E o tempo transformou a barbárie em jóia de nossa arquitetura colonial. Elegeram um dentista pra cristo (quase literalmente). Dizem que ele lutou pela liberdade. Ante a forca, eu imagino um trombadinha de hoje que, voltando numa máquina do tempo a aquele período, dissesse para o alferes,: ‘perdeu, playboy’! O alferes foi enforcado, alguns de seus amigos foram deportados. Também não sei se é correto chamarem de liberdade o que eles queriam. Pra mim é mais uma espécie de convenção do PMDB. Mas o fato é que o tempo, quase sempre ele, colou a esse movimento a luta pela liberdade de um povo. Benzeram a pedra sabão, (permitam-me um parêntesis, será o único: hoje, mijam. Fecha parêntesis.) Ouro Preto virou uma Meca tupiniquim, dizem que quem não vem aqui pelo menos uma vez na vida, não pode ser chamado de brasileiro. E as pessoas vem. Quer uma oportunidade melhor pra usar a máquina digital comprada em doze vezes? Excursão escolar, viagem de fim de semana, ir a BH e aproveitar pra dar uma passadinha em Ouro Preto... O maior barato da cidade é a foto. E é mesmo. Mais o quê, afinal? Eis uma pergunta. As pessoas vem, buscando ecos forjados de liberdade fictícia e fazem o quê? Sobem ladeira, descem ladeira, foto. Esse lastro pesado da cidade a seu passado ficcional, porque o passado factual é torpe e denso, cru, será uma enorme âncora que não lhe permite navegar por outros mares? Seremos lúcidos o suficiente pra entender que isso é uma invenção? Não, apesar do que parece, não estou fazendo aqui um ataque à hipocrisia da história. Até porque a história não é hipócrita. Esse texto, pelo contrário, é uma apologia à adaptabilidade humana. Tem homem no Himalaia, no deserto do Saara, no raio que os parta. Se, portanto, a gente consegue, como sociedade, inventar verdades e passar a viver e conviver com elas, isto significa que não estamos presos às tradições, aos costumes, aos hábitos, como devires inexoráveis. Não existe devir inexorável. Não existe um passado que nos condicione o futuro. Não existe passado e nem futuro. Existe uma construção constante e vibrátil. Vamos atualizar Ouro Preto, meu povo! Começar a viver uma cidade no aqui e agora. Quem venha o mundo. Mas quando vier, que extrapolemos a photo. Ouro Preto deveria ter uma fundação internacional de cultura negra, fazendo a ponte, transmutada, revista, infinitamente melhorada, entre o Brasil e a África. Esse seria uma nova e fascinante diáspora. Refletir a arte negra de ontem, incorporando o rap, o samba. Confirmar que história permanece. Que somos história. Permanecemos história. E o louco é perceber que a cidade está instrumentalizada: temos uma universidade federal pública, uma fundação de arte estadual, um museu da inconfidência, repasses de verba exclusivamente cultural, um festival de inverno. Mais do que isso, temos o festival de inverno. Aí acontece a aberração: você vai a uma instituição e ela te diz: não, aqui a gente não faz teatro, porque quem faz teatro aqui é a outra. Na outra, o mesmo, só que ao contrário. Fica essa sensação que nada acontece. Um monte de gente trabalhando, alguns projetos acontecendo, e nada acontece. Vem o japonês e... photo! Temos pouquíssimos artistas de expressão nacional. Alguns pintores e só. Claro, temos o Jorge dos Anjos. Mas ele é um cara que atualizou Ouro Preto. Mais do que isso: ultrapassou Ouro Preto, ética e esteticamente. Retomou a diáspora negra. Imprimiu-se na tela. Modernizou o passado! Sem um pé calcado no presente, Ouro Preto é pedra. E só. Não estou propondo colocar asfalto na rua direita. Muito pelo contrário. Estou propondo fazer um duelo de Mc´s, com um na sacada do museu da inconfidência e o outro na sacada da Casa dos Contos, com transmissão on line de um pra outro. Estou propondo fazermos um festival de teatro de países de língua portuguesa. Um encontro de poesia visual projetada nas casas da Vila Aparecida, salto de paraglider do morro Santana, vôlei de praia em Lavras Novas. Mais produção, mais dinheiro, mais arte. Porque só assim, viva, a cidade valoriza mesmo seu passado. Se o passado é aqui, ele interessa. Se é lá, incomoda, atravanca, atrapalha. Não é fácil. Eu mesmo tento, mal e porcamente. Mas não é fácil. Quem disse que seria?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

10 ANOS DO GRUPO RESIDÊNCIA



Pois bem, é isso: há dez anos eu chamava o Hazen, um trompetista, pra tocar piano numa montagem que eu queria fazer pro MoMu, festival de monólogos e música original da UFOP. Eu tinha um personagem que havia contruído fazendo intervenções cênicas num shopping center, em Salvador - isso depois de viver um mineirinho sem graça, com o qual ganhava pão de queijo de graça e o indefectível super-agulha, o super-herói mais imbecil da face da terra e demais planetas. Estreamos com uma versão de 10 minutos e depois aumentamos a montagem em meia hora. Convidei o Foca, Leonááárdo pros íntimos, pra produzir a gente e inscrevi Os Cadernos no Festival de Curitiba. No ato da inscrição on line, tinha uma lacuna onde estava escrito 'contato' e outra 'endereço'. Aquilo me confundiu. Eu preenchi no contato 'Residência' e embaixo o endereço de minha residência. O festival de curitiba respondeu: "Residência: recebemos sua inscrição..." Pois bem, estava batizado o grupo que queria nascer Núcleo de Pesquisas em Artes Cênicas da UFOP, mas graças a deus não deu. 10 anos depois o Foca vai a uma festa de aniversário da avó da Marisa, sua esposa, e encontra a Nadja, que tinha ido para o aniversário da avó de seu namorado, o Henrique. Ele fala: Eu fui do Residência. Ela: e eu sou!!! O ciclo se fecha, mas tudo também recomeça. Uma espécie de mesmo ponto só que mais à frente. Os desafios são os mesmos, um pouco mais a frente porque agora tenho mais barriga! Mas o tempo é forte, embora pareça sutil. De cá tenho a consciência de causa: foi aí que dei meu sangue, injetei bílis no peito, fui poeta (brinquei de rilke, pessoa, fui russo, boneco, doente, compus, me indispus, viajei). São 10 anos de muita entrega, mas também de muitas conquistas, na mesma proporção, aliás. Aí me falam: você devia ter saído de ouro preto. Talvez devia mesmo, mas talvez fizesse as mesmas coisas em outro lugar, porque o que faz a gente é a necessidade (como a ocasião o ladrão). Projetei na pedra, fui palhacinho de festa, apanhei de crianças num trem. Fui humilhado por um adolescente com aparelho - que graça que tem isso? - reinventei-me: eu fui o outro. Eis a delícia do teatro (e a dor): estar condenado a uma tangente de si constante. Não ganhei dinheiro, tenho dívidas com o banco do brasil e ainda não consegui comprar a cota do clube. Mas eis uma coisa que construí, com parceiros constantes como Foca, Geuder, Flaviano, Didito, Biê, Daniel, Frederico, Guina, Hazen, Xibil e agora Nadiana, Renato, Ellen, Nadja: um grupo, um pedaço da história de cada um nós (e com o perdão do egoísmo, da minha especialmente, porque misturei o residência e a minha residência, minha história e o meu devir, meu desejo e minha obrigação). Sao dez anos de muita coisa. A maioria delas simples demais.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O TRIUNFO EUCARÍSTICO



Ouro Preto é uma cidade muito louca, disso todo mundo sabe. Permitam-me um certo bairrismo. Por ser uma cidade que vive do passado, parece que sempre somos piores do que a galera de 200, 300 anos atrás. Uma sombra difusa. Taí a grande importância de um evento como o Triunfo. É muita gente que produz cultura todo dia. Contemporaneamente. Muita coisa diferente, um caos! Todo mundo junto, rompendo os hímens de nossa incompetência pro real diálogo com o que é diferente. E uma festa, cheia de coisas que dão errado, de gente que esquece a hora de fazer alguma coisa, e de beleza, inclusive por isso. O Brasil é um país que tende à antropofagia mesmo. Era assim quando o Padre Anchieta colocou um cocar na auréola de Nossa Senhora. Será assim quando nossos homens do futuro dançarem maculelê. Somos esse povo fragmentado que o cortejo mostrou. Nesse momento, quando vejo todo aquele pessoal junto, pessoas que ou não se conhecem ou não se suportam ou ambos, todos no mesmo evento, uma profusão de alegria, de orgulho, aí eu também tenho orgulho dessa terra (eu disse que seria ufanista, não disse?). Acaba e somos os mesmos, com nossas mesquinharias, pequenos traumas, egoismozinhos babacas. Mas, como já dissemos noutro lugar, pra se romper qualquer coisa precisa-se da fresta. Quando cheguei à Igreja do Rosário e vi o congado de Miguel Burnier descendo a ladeira, eu chorei. Porque as frestas tem seu risco. Agradeço e termino, que quando se abre um buraquinho de rato numa parede de pedra, descobrimos duas coisas: um novo mundo e uma nova parede. Cavuquemos!!!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

JAIR BOLSONARO OU PORQUE É MAIS FÁCIL LIDAR COM O NAZISMO QUE COM A HIPOCRISIA





O Jair Bolsotário prestou um grande serviço pra discussão sobre o racismo e a homofobia nesse país. Ele é um imbecil. Mas confesso que prefiro ele à maioria hipócrita de nossos fazedores de lei; ele permite que a discussão fique mais clara, portanto, objetiva. Ele apressa as mudanças. Ele não quer ver o filho casado com uma negra? Boa parte de nossA classe média também não quer. Ele acha que homossexualismo é promiscuidade? Que se 'cura' trancando o filho num quarto e descendo-lhe de porrada? Um monte de gente pensa assim. Digo, quanto mais Bolsonaros, melhor. Repito: ele foi eleito, milhares de pessoas fazem-se representar nele. A maioria, covarde. Sou contra sua cassação. Quanto mais ele falar, melhor. Seu discurso servirá de parâmetro pra quem concorda e pra quem discorda. Precisamos da arte, como potencial transformador da cultura (ou alguém acha que só porque é cultura é bom?). Precisamos da educação ampliada, humanista, holística, pra desaprender o ódio em nossos filhos. Isso tudo, acho, depende do conflito. Claro, objetivo, escancarado. É preciso que nosso nazismo brasileiro se mostre, claro, objetivo, escancarado, examente pra que se possa combatê-lo. Senão vira uma guerra onde todo mundo é bom. Ou todo mundo é mau. Obrigado, Bolsotário! Parabéns ao CQC!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

TRANSFORMANDO COMENTÁRIOS EM POSTAGEM

Estava relendo as postagens deste blog e resolvi converter os comentários de um dos posts -

REFLEXÃO SOBRE OS MEIOS DE PRODUÇÃO DE TEATRO -

em um post. Quem quiser conferir o post de origem, só cliclar aqui no título, que é automaticamente remetido pra lá!

4 comentários:


Walmir disse...
Virei-me já numa boa quantidade de personagens. (garçon, malandro roceiro e urbano, professor aloprado, sábio alemão, revolucionário, hipocondríaco, anjo, drogado, dom quixote, par romântico, centurião, estrangeiro explorador, empresário, arauto, empregado, diabo, sequestrador, jagunço, velho quando eu era novo, orixá, coronel, e mais) Virei-me tb em coisas como um pepino, uma cor, um sentimento. Fui também narrador de mim mesmo e de quem eu nunca soube direito. Fiz vozes e sombras. Ruídos também. Inventei firulas pra outros, modos de ser, luzes, deslocamentos, roupagens, fumaças cenográficas, artefatos de vária serventia, imitações. Vi e escrevi. Conversei ensinamentos. Tentei ser importante. Tentei ser simples. Me meti em políticas, cacei brigas, conciliei. Plantei projetos. Ganhei uns cobres, criei filhos. Continuo fazendo essas coisas todas e quando penso nelas é como vc diz, ufa! Mas olho em frente e ainda me divirto. Não invejo burocracias. Diz o MCA que fazemos teatro pra conquistar as garotas. Pode ser. É possível mesmo fazer teatro se conquistamos as garotas. Paz e bom humor, mano rato.
aparatOZerosete disse...
É que eu vejo planilhas, justificativas, concorrências públicas. Meu personagem é um só e ele usa óculos! O produtor de cinema americano metido num pornô amador (sem camisinha). Mas MCA que está certo: uns beijos na 'boca dela' pra fazer a vida bela! Grande abraço, Mestre Splinter. Você conhece o mestre Splinter, Walmir?
Adélia Carvalho disse...
Gosto desses reencontros com anotações antigas, sonhos de montagens, eu sempre me deparo com elas, mas muitas vezes quando elas se concretizam, já vão longe de tudo que foi a primeira idéia. Eu ando pensando demais nisso que você fala aqui, de como saímos de um processo de criação, vez ou outra saiu assim também, me sentindo menos criativa, mas quando olho, já estou alimentando outros quereres, outras criações começam a brotar em mim e quando vejo, já estou completamente envolvida pela necessidade de criar. Acho que a verdade é que o fim em si (se é que podemos chamar assim) de um processo, nada tem haver com nossa necessidade de criar, porque essa não tem fim, ela muda de objetos, muda de lugares, mas não se muda da gente, isso não tem fim. Por isso é impossível para nós não fazer teatro. Beijos.
Renato Ribeiro disse...
É... pergunta difícil. Ainda estou no que se pode chamar de "País das maravilhas". Tudo numa lógica paticular. E se as rosas são bancas? Pinto-as de vermelho. Cuspi para o alto, e se ele voltar... um lenço! Abraços!!!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

GALANGA! FOREVER

O Galanga! é uma banda de rock afrogressivo formada em 2001 no porão da Castelo dos Nobres, tradicional república estudantil de Ouro Preto. Agora, depois de uma breve pausa pra esquentar tamborins, está de volta ao cenário independente, reinventando-se. O primeiro show desta nova fase já tem data e casa: abaixo, detalhes completos. Paragundum pé de moleque tum!


domingo, 19 de dezembro de 2010

A RODA VIVE


Zé celso e Oficina Uzyna Uzona

Sempre que precisar, contem com a gente , estamos com vocês!!



AS DIONIZÍACAS DE 17 a 20 no TEATRO DE ESTÁDIO do ex-ESTACIONAMENTO do BAÚ da FELICIDADE serão dedicadas à luta pelos DIREITOS HUMANOS DE ELAINE CESAR E À LIBERDADE ARTÍSTICA VIOLADA PELA VARA DE FAMÍLIA DE SÃO PAULO

São 06:16. Acordei, apesar de estar exausto por excesso de trabalho pelos trabalhos de realizar meu maior desejo em 30 anos, de apresentar a partir de 6ª feira as DIONIZÍACAS no Teatro de Estádio que levantamos no Ex-Estacionamento do Baú da Felicidade mas não  consigo dormir porque não estou mais suportando a ENORME INJUSTIÇA que a SOCIEDADE BRASILEIRA está cometendo com ELAINE CESAR, que neste momento está na UTI, correndo risco de vida.

Este caso não é diferente do de Sakineh no Irã, do de Lu Xiaobo na China e de Assange na Inglaterra. Vim pro computador porque até agora não conseguí fazer chegar nossas vozes de defesa aos DIREITOS HUMANOS desta Mãe Artista, Diretora de Video do Teatro Oficina Uzyna Uzona, que na semana passada, perdeu em duas jogadas:

1º,  a guarda de seu filho THEO, de 3 anos de idade.

2º, seus instrumentos de trabalho confiscados, seus HD’s, que também são do Oficina, com todo material gravado de pelo menos 30 anos de Oficina Uzyna Uzona, e de outros trabalhos seus, e de artistas como Tadeu Jungle.

É um atentado à liberdade de produção artística, um sequestro só comparável à invasão do CCC em 1968 a “Roda Viva”.

E agora esta mulher está incapacitada de estar à frente do trabalho que adora, de comandar a direção de Video e das filmagens das Dionizíacas esta semana, e tem de ver a sociedade, a Mídia sempre tão escandalosa, impassível com este fato.

Porque tudo isso ?

Porque um ex-marido ciumento, totalmente perturbado, teve acolhidos por autoridades da Vara da Família, para esta praticar uma ação absolutamente anti-democrática, para não dizer nazista, todos seus pedidos mais absurdos de ex-marido ególatra, doente, de arrancar o filho do convívio da Mãe, acusando Elaine de trabalhar num “Teatro Pornográfico” e para lá levar o filho: o Teatro Oficina. Fez oficiais de justiça sequestrarem os HD’s deste Teatro, com um texto de uma obscenidade rara, para procurar cenas de pedofilia e práticas obscenas que Elaine e seu atual marido, o ator Fred Stefen, do Teatro Oficina, teriam cometido com o filho de Elaine, o menino Theo.

Quase todas as 90 pessoas que trabalham na Associação Oficina Uzyna Uzona têm se manifestado por escrito, pois tiveram contato permanente com Theo, Elaine e Fred dentro do teatro e fora dele e não se conformam com a falta de eco de seus protestos.
Porque tudo isso ?

A revolução cultural da liberdade que uma grande parte dos seres humanos vem conquistando determina uma reação absolutamente inquisitorial, fascista, como é o caso dos homofóbicos da Av. Paulista e no caso, não do Estado Brasileiro, mas da própria Sociedade Reacionária incorformada, querendo novamente impor censura à Arte, aos costumes, e pior à vida dos que escolheram viver livremente o Amor.

E é incrível aqui, a liberdade de imprensa tão fervorosa em escândalos moralistas, se cala totalmente diante de um atentado a dois seres humanos, Elaine, a Mãe, e Theo seu filho, e a um teatro de 52 anos como o Oficina, e não toca no assunto, como se fosse o Partido Comunista Chinês, os Republicanos dos EEUU e os fundamentalistas islâmicos do Irã.

Tenho feito inúmeras reportagens sobre as DIONIZÍACAS, e falado no assunto, mas a divisão ainda tayloriana de trabalho impede que os jornalistas levem a sério o que estou dizendo, por não estar no limite das matérias que estão fazendo comigo.

Enquanto isso uma mulher, ELAINE CESAR, praticamente corre risco de vida na UTI e o Teatro Oficina censurado estreia as DIONIZÍACAS tendo por exemplo de fazer sua propaganda para a TV com material ainda filmadas no edifício do Teatro Oficina, pois as imagens do Teatro de Estádio erguido pelo Brasil em 2010 estão sequestradas pela Vara da Família.
O moralismo desta instiuição, que parece odiar os Artistas como criminosos, dá proteção a um macho ciumento, invejoso, doente, mordido de ciúmes, que está tendo delírios sexuais, projetando em ações discricionárias como as que tem praticado, e pior com apoio da injustiça.

Fazendo um ensaio corrido de BACANTES, que conta a história de Dionisios e da luta de seu adversário moralista, que quer impedir o culto do Teatro em sua cidade, percebi o óbvio. Tudo que Penteu acusa nas BACANTES e em DIONISIOS é projeção de coisas que seu ciúme provocou em sua cabeça.

Elaine, muito tempo depois que se separou deste ex-marido, teve o privilégio de encontrar um novo amor no ator Fred, que é homem muito bonito e muito livre. O macho, ex-Hare Krishna, ciumento, invejoso, então endoidou e começou a imaginar em sua cabeça cenas de pedofilia, sexo de Elaine e de seu novo maravilhoso amor com seu filho, repressão ao TEATRO OFICINA. Elementar, Freud diria.

Os desejos de pedofilia, até de pederastia em relação ao atual marido de Elaine estão nele. Por isso o menino de 3 anos Theo, corre perigo nas mãos deste irreponsável. Uma tia procuradora aposentada, de Brasília, rica, e um deputado devem estar auxiliando o rapaz com seus contatos reacionários aqui na Vara de Família.

Nem sei os nomes das pessoas porque os autos não estão na minha mão. Elaine não tem pai nem mãe, estão mortos. Fred está sem dormir há dias, agora preocupado acima de tudo com a sobrevivência de Elaine. Segunda feira havia uma audiência com o Juiz de família, para copiarmos o absurdo de mais de 400 horas de vídeo dos HD’s. Nenhum de nós nem pôde aparecer, pois estávamos preocupados com a vida de Elaine, hospitalizada na UTI. Fred doi buscá-la no aereoporto, onde voltava de Brasília, para onde tinha ido ver o filho, sob a vigilância de uma babá contratada pela tia. Na despedida Theo o menino chorava, querendo voltar para os braços da mãe em São Paulo, segundo relato de Elaine, que do aeroporto, passando muito mal, teve de ser hospitalizada, e em estado grave o hospital resolveu colocá-la naUTI.

Não sei o que fazer para acordar a mídia, esta Justiça Injusta que, querendo defender a Família, destreoi a vida de uma Mãe, de uma Criança e atormenta todo nosso trabalho maravilhoso neste momento vitorioso do Oficina Uzyna Uzona. Este “taylorismo”, (divisão de trabalho e competências do século 19) da vida contemporânea, esta insensibilidade aos direitos humanos que me é revelada agora neste momento, me faz dedicar as DIONIZÍACAS á todos que lutaram em 30 anos por este momento, mas sobretudo a ELAINE CESAR E THEO.
Que esse filho volte imediatamente para os braços da MÃE antes que aconteça o PIOR.

E que o material apreendido retorne imediatamente ao Oficina Uzyna Uzona.

É uma Obra de Arte sequestrada em nome de uma atitude mesquinha provocada pelo Ciúme de um Ególatra, de uma Justiça cega e de uma Sociedade, Mídia, conivente como a de São Paulo.

Por favor acordem os trabalhadores da difusão do que acontece de bom e de mau no Mundo e revelem isso a todos. Peço a todos, seja quem for, que façam esse favor de amor aos direitos humanos e batam seus tambores.

Me dirijo especialmente a Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire. Médica, Professora da UFRJ, Nilcéa ocupa o Ministério há quase 8 anos. Tem feito um excelente trabalho. O endereço da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República é: Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Edifício Sede, 2º andar – Brasília/DF. CEP: 70047-900. Fones: (61) 2104 – 9377 e 2104 – 9381. Faxes: (61) 2104 – 9362 e 2104 – 0355.

A OTAVIO FRIAS, na FOLHA, aos diretores do ESTADÃO, do GLOBO, das TV’S, Rádios, que apurem os fatos. Nós estamos envolvidos nos trabalhos de estrear dia 17 as DIONIZÍACAS, um marco na história do TEATRO MUNDIAL, e nos sentimos impotentes diante da gravidade do assunto, de uma VIDA HUMANA CORRENDO O RISCO, POR SEUS SENTIMENTOS DE DIREITOS HUMANOS TEREM SIDO AGREDIDOS.

Colaborem conosco, estamos sobrecarregados dos trabalhos das DIONIZÍACAS, mas não podemos parar pois é a ARTE somente que temos para dar Vida a Elaine nestes dias.

José Celso Martinez Corrêa

14 de dezembro de 2010, 07:40

MERDA

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O BANQUETE DOS RAZOÁVEIS - PARTE 2


Esta foi a charge vencedora do Concurso de Frases e Charges do Comhur, da UFOP. Esta charge é de Luciana Ferreira. Ela venceu minhas charges abaixo, por que, segundo um dos representates da comissão de avaliação, minhas charges não se enquadraram no tema proposto, relações de trabalho. Alías, minhas charges não foram nem classificadas para concorrer com as dela. Alías, ainda, as três únicas charges classificadas foram as dela. Nada contra Luciana (talvez um pouco de inveja de seu lap top novo, mas nada contra as charges dela. Talvez só um pouco.)  As minhas charges, coitadas, foram classificadas ainda como de difícil compreensão. Fui informado que, no caso da visita do filho ao ambiente de trabalho do pai, somente no último momento um dos representantes sabiamente disse: "Ah! Ele está desenhando as pessoas do escritório!" Meu filho, este mês, fez cinco anos. Sua festa foi linda, cheia de grandes amigos. Ele compreendeu minhas charges muito bem.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O BANQUETE DOS RAZOÁVEIS

Você acha essas charges muito difíceis de entender? Rondon acha!


sábado, 18 de setembro de 2010

AS BICHAS DE OURO PRETO

Photo: Du Trópia

Eu era menino quando ouvia histórias do Beco do Satã. Não sei se o do que me recordo é o que ouvia ou o que eu imaginava a partir do que ouvia, ou do que via, mas o fato é que havia um hiato no passadismo de ouro preto, esse que cultua a morte e a pedra, o mofo e a vela. Depois a janela erótica, um rasgo, uma fresta feita de punheta e lirismo, em que silhuetas de homens de cueca e mulheres de calcinha estamparam os casarões históricos. Depois veio o Ratatá, mais uma vez um inferninho homo(esimpatizantes)erótico, uma opção mais junkie (e também, à luz do lirismo dos loucos e bêbedos, mais belo). De novo a apologia às drogas e ao sexo era uma espécie de grito de estátua de pedra, lança de são jorge de aleijadinho manchando de sangue espesso nossa caretice católica, nosso apego à memória de um tempo que foi muito mais trash do que os babados e afins das mulheres de mau hálito do período colonial fazem deduzir. Exagero? Sim. Disse que neste texto se misturariam memória e desejo, imaginação e poesia? E, algum tempo depois, percebi que nestes fatos aqui descritos (e até nos imaginados, e mesmo nos inventados!) havia uma mesma patota, uns 4 ou 7 malucos de carteirinha a que me habituei chamar de 'As Bichas de Ouro Preto', afeitos ao rock e ao choque (não o elétrico, mas erótico), à festa e à fresta (destaca-se aqui que nem todos eram homossexuais, nem todos eram homens, mas que a ação conjunta colocava-os todos num mesmo saco, o radical de sacanagem, o saco do caso de adão. Eram todos viados!). À minha decendência ouro-pretana eles ensinaram que nem tudo era forjado ao fogo da moral, que éramos feitos também de hiatos, que gozar era tão importante quanto orar. Depois li Ginsberg e entendi-lhes a descendência.

Este parágrafo simboliza um salto no tempo, um hiato dentro do texto (estaria claro por si só?). Olho para nosso eventos anuais, para nosso eventos internos, para as vernissages concorridas por bêbados e trêbados, para os eventos do micro-cosmo do micro-cosmo teatral, para os coquetéis da prefeitura, para a rua direita, (ouro preto é uma cidade sem zona, portanto, serei privado desta citação), para o barroco em que é proibido fumar, para os textos do banheiro do satélite e penso: cadê as bichas de ouro preto? E penso: que pasmaceira! Cadê as bichas de ouro preto? Vou pro jazz e danço, nos festivais leio, penso, canto, mas depois penso: o quê eu faço com o meu tesão? Queremos saber se Tiradentes era bem dotado. Queremos imaginar Marília fazendo sexo anal com Tomás naquela banheira da secretaria de cultura. Cadê as bichas de ouro preto? São donos de jornal, papelaria, professores, pensadores, produtores... Cadê Judith Malina? Cadê Judtihs Malinas? Minha mãe se lembra dela tomando banho pelada no tanque do quintal. Nós quase já não temos cinema, não temos boite, não temos puteiro (desculpe me repetir, mas é um fato). Temos um monte de homossexuais, mas é como se não tivéssemos bichas... cadê?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

GAZA


Photo: Naty Torres

Os principais artistas do teatro israelense provocaram uma polêmica em Israel ao assinar um abaixo-assinado defendendo o boicote a um novo teatro construído no assentamento judaico de Ariel, na Cisjordânia, alegando não reconhecerem a legitimidade da colonização dos territórios ocupados.
A direção de cinco principais grupos teatrais israelenses havia feito um acordo para participar de um programa de apresentações para marcar a inauguração da nova sala de espetáculos, gerando o protesto de seus integrantes.
O novo teatro, que será inaugurado em novembro, é a primeira grande sala de espetáculos construída em assentamentos nos territórios ocupados e pode comportar as grandes produções dos principais teatros israelenses.
Os grupos teatrais assinaram a venda dos espetáculos sem consultar os artistas, e grande parte deles se nega, por razões politicas, a cruzar a linha verde (antiga fronteira entre Israel e a Cisjordânia, antes da ocupação israelense, durante a guerra de 1967).
No domingo, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, se envolveu na polêmica e ameaçou cortar o financiamento estatal às companhias envolvidas no boicote.
"Nesse momento em que Israel sofre um campanha internacional de deslegitimação, a última coisa que precisamos é de um boicote que vem de dentro", afirmou Netanyahu.
"Não quero minimizar o direito de cada indivíduo, de cada artista, de ter posições políticas. Eles podem expressar seu ponto de vista, mas nós no governo não podemos financiar boicotes de cidadãos israelenses nem apoiá-los de nenhuma maneira", disse.
CONSCIÊNCIA
Itai Tiran, um dos atores de teatro mais importantes do país, disse ao site de noticias Ynet que se apresentar no assentamento de Ariel 'contradiz a minha consciência e tudo em que acredito'.
"Não vou me apresentar naquela sala de espetáculos e em nenhuma outra que se encontre nos territórios ocupados", afirmou.
Para a dramaturga Savion Librecht, Ariel "não é legítimo". "Aqueles que decidiram ir morar lá (nos assentamentos), se quiserem assistir a espetáculos culturais israelenses, podem se deslocar para alguma cidade dentro de Israel", afirmou a dramaturga.
"Se um número suficiente de artistas assinarem (o abaixo-assinado), as peças não poderão ser apresentadas lá", concluiu.
O músico Dori Parnes disse ao Ynet que "por mim eles terão que apresentar o Conde de Monte Cristo [uma das peças previstas na programação] sem som". "A minha música não será apresentada no assentamento, pois não vou colaborar com o projeto de colonização", disse.
CANALHAS E HIPÓCRITAS
O Conselho de Judeia e Samaria, liderança dos colonos israelenses, declarou que os artistas que assinaram o abaixo-assinado são "canalhas e hipócritas".
Para os colonos, o abaixo-assinado foi escrito por "um punhado de ativistas de esquerda anti-sionistas que atacam maldosamente os melhores filhos do Estado, que os protegem enquanto eles atuam nos palcos".
O deputado Zvulun Orlev, presidente da Comissão de Cultura do Parlamento, anunciou que vai convocar uma reunião especial da comissão para discutir o boicote dos artistas.
"Trata-se de um ato anticultural, que boicota centenas de milhares de cidadãos de Israel, que moram em povoados legítimos em Judeia e Samaria [nome bíblico para a Cisjordânia]", afirmou Orlev, que pertence ao partido de direita Habait Hayehudi.
A ministra da Cultura, Limor Livnat, do partido Likud, condenou a declaração dos artistas.
"Este ato grave cria uma cisão na sociedade israelense, discrimina públicos de acordo com as opiniões políticas dos artistas. Deve-se deixar a discussão política fora da vida cultural e artística", disse a ministra para o site de noticias Walla.
De www.mercadocenico.blogspot.com